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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Um Repórter: trajetória e enfrentamento

Sou jornalista praticamente desde que me entendo por gente. Fui criado num lar em que as pessoas liam muito e mesmo as que não liam tanto assim costumavam me incentivar, me trazendo livros e revistas.
Na medida em que fui assimilando a consciência em torno da minha realidade, do que se passava em volta de mim, das pessoas, do tempo, dos acontecimentos, então eu colocava tudo aquilo no papel. Em pequenas crônicas da minha primeira infância e que foram crescendo comigo, me dominando por inteiro.


Na foto, entrevistando o senador Mão Santa, em Brasília
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Eu acompanhava o noticiário do rádio e da televisão e contava histórias com base naquilo que me era transmitido. Naquele tempo, começo dos anos 70, não pense que era fácil assistir televisão.
A programação começava a ser transmitida por volta de quatro da tarde. Você ligava o aparelho, dava um longo passeio, conversava, brincava e voltava bem meia hora depois e a válvula ainda não estava acesa.
Em todo caso, a tevê exerceu grande influência na minha formação. Foi por causa das reportagens sobre desigualdades sociais no Nordeste, sobre a seca, a corrupção de alguns políticos, o descompromissos de certos governantes, foi assim que eu aprendi a contestar, a fazer aquilo que é a essência da atividade jornalística – o questionamento.
Comecei em casa, fazendo notícias para mim mesmo, depois fui para o rádio, em seguida jornal e a própria tevê. Mas sempre mantive esse espírito crítico que me acompanha até hoje, de procurar entender por que o dinheiro público não rende quando todos obrigados e pagamos nossas obrigações, nossos impostos.
De procurar entender por que certas pessoas são mais pessoas que as outras, cometem crimes e não vão para a cadeia. Noventa por cento da população carcerária é de pessoas muito pobres.
Os mais ou menos representam em torno de 8%, enquanto que os ricos são apenas cerca de 2%. Ou seja, a gente pode contar nos dedos.
E não devemos nos conformar com isso. Pelo contrário. Um jornalista americano chamado Jhon Dargnthon afirma que “quando tudo o mais falha; falha o judiciário, o ministério público, as instituições de governo, o cidadão recorre à imprensa e é devidamente acolhido.”
Temos acolhido muitas denúncias. Repercutido a maioria delas. Os resultados aparecem aqui e ali. Mas ainda precisamos avançar bastante na valorização do nosso jornalismo – e isso acontece não por responsabilidade do jornalista, e sim das empresas de comunicação, que baseiam o seu faturamento, na maior parte, nas verbas do governo.
Desse modo ficam impedidas de fazer um jornalismo independente. Claro que existem as raras e honrosas exceções. São poucas. Tenho muita satisfação em fazer parte de uma delas neste momento – a RádioTeresina FM.
O livro “Um Repórter” conta muito da minha atuação profissional iniciada em 1984, como adolescente, no extinto Jornal do Piauí, passando depois pelas rádios São José dos Altos, Heróis do Jenipapo, Verdes Campos FM; jornais Folha do Nordeste, Correio do Piauí, Meio Norte; TV Meio Norte; Rádio Globo Teresina Meio Norte; e finalmente Radio Teresina FM.
Nesse meio tempo, casei com a professora Pedrina e tivemos o nosso único filho, Pedro, que decidiu seguir carreira na imprensa e está praticamente se formando em jornalismo.
A profissão me trouxe muitas conquistas. Mas também muitos dissabores. Notadamente no que trata sobre a perseguição dos poderosos.
Antes, quando era adolescente e participava modestamente (como todos por aqui) da contestação a ditadura militar em agonia, eu imaginava que essa história de perseguição contra jornalistas era uma coisa distante, que acontecia apenas com aqueles profissionais que desvendam tramas de acordos secretos entre potências nucleares ou fotografam políticos americanos em situações desconfortáveis.
Nada disso. Acontece bem aqui, perto da gente, muitas vezes com a gente mesmo, e sem que a população em geral se aperceba. E quando percebe não se importa e ainda diz que o jornalista é culpado pelo que lhe aconteceu.
Ouvi algo parecido em 2002 quando Tim Lopes foi esquertejado em vida na favela Cruzeiro pela gangue do bandido Elias Maluco. Um sujeito falou que ele foi mexer com o que não devia...
Quando publicou seu livro “Abusado, o dono do morro de Dona Marta”, sobre a vida do traficante Marcinho VP, o jornalista Caco Barcellos foi seriamente ameaçado de morte e teve que se transferir por vários anos para Londres, na Inglaterra.
Teve sorte. Alguns de nós não conta com o mesmo destino. Aqui mesmo no Piauí alguns profissionais foram processados, torturados ou mortos – tudo pelo direito de informar.
No processo judicial, busca-se a humilhação, a intimidação, fazer com que recuemos do propósito de investigar, que é próprio do jornalismo.
Neste livro “Um Repórter”, trago muita coisa sobre isso. Sobre investigação jornalística, sobre obrigação profissional que muita gente entende como destemor. Sou agradecido pela consideração.
O livro é um reunião de histórias sentidas e vivenciadas ao longo de mais de duas décadas de atividade jornalística que posso considerar e dizer como intensa. Ao extremo.

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